sexta-feira, 22 de novembro de 2013

E se te disser agora a verdade...

E se te disser agora a verdade,
voltarás?
Se for esta a minha confissão
o desespero esperado de uma intenção
onde a tua vitória moral não se reflete.

Poderei abraçar-te novamente?

Não tenhamos sentidos em demasiado tempo vazio
ou mares profundos
onde a luz da nossa vontade não penetre.

O cais ainda é o mesmo! Eu é que envelheci
um pouco mais rápido na tua ausência,
um pouco mais feroz no teu silêncio.

sábado, 2 de novembro de 2013

Ali

Ali, onde o mar exagera a pedra negra,
rasgaram-se as veias da terra ao mar
e o sangue brotou quente.
Raiou a dor de uma país a nascer, uma nação a encontrar
a força e o navegar.

Ali onde a praia é funda
lançaram sonhos breves em esperança
e a certeza de o querer, negando, deixar.

Não sei os caminhos que se farão mas ali...
Ali o Atlântico que tanto nos limpou
virou costas!

Ali
aonde Sebastião nunca mais veio!

sábado, 8 de junho de 2013

Não era suposto amar-nos...

E se te disser agora 
qual foi o gesto mordaz do meu adeus?
Irás perdoar-me as lágrimas
e o respeito pela minha individualidade?

Não tínhamos certezas além desse verão
e tudo seria esquecido, talvez...
Ainda recordo 
o ar breve da tua respiração no último beijo,
o sentimento de duas mãos que se separaram,
a racionalidade abalada...

Não era suposto amar-nos!
Não deste modo contínuo
para lá de uma juventude ingénua,
para lá desses dias de sol no cais olhando o mar.

Não era suposto continuar a procurar-te
e faço-o sem saber que te dizer se te encontrar.

Não era suposto amar-nos...


domingo, 31 de março de 2013

Hoje parto triste


Hoje parto triste…

“Nunca terás certezas nem de ti próprio.”
Livro dos Conselhos

Já não levo da vida tempo mas quis, ontem, visitar um velho amigo, um escritor que sempre soube ver o mundo e, talvez por isso, escrevia quase só para si.
Hoje parto por não saber pertencer ao grupo dos fracos. Fracos por teimosia. Fracos por se acomodarem em breves comentários entre cafés. “Está tudo mal… é a crise!”

Hoje parto pela necessidade de luta que há em mim. Hoje parto porque partem os jovens e não sabem que responder aos pais quase sós, aos meus parceiros de uma outra infância.
A sociedade falha de maneira assombrosa e as “máquinas” que nos poderiam mover calam-se. Não sabem apontar um caminho quando os primeiros passos foram seus e errados. Não sabem mudar o rumo e morrem antes mesmo do embate contra a própria realidade. E temos tantos afastamentos do que significa esse termo que às vezes acho abusivo um emprego tão estéril em discursos tão significativos. “A realidade atual…”

Visitei um companheiro que escreve, único e deforma capital, ensaios sobre dissoluções ideológicas e harmonias implacáveis quando um povo se ergue e constrói um futuro. Visitei-o para dizer-lhe adeus.

Portugal precisa de se encontrar fora dos brandos costumes de que às vezes se sente orgulhoso – disse-me. Nascemos todos do mesmo espírito mas só somos verdadeiramente portugueses quando abandonamos o país.
Sentimos saudades quando estamos longe mas trabalhamos arduamente para algo. O vermelho da bandeira não fala apenas do sangue derramado em guerras. Fala também dos laços de sangue que se partiram a alguns anos quando a emigração foi um remendo social. Fala das lágrimas derramadas então mais dolorosas que o sangue a escorrer das mãos ao tentar cultivar as terras para alimentar os filhos.
Se calhar devemos esvaziar o país até que todos saibam que dor sentem agora os jovens. Falta-nos visão…

Tentei ainda argumentar que este nosso mal é também culpa de outros. Respondeu-me baixo e claro, sem pressas. Não somos o mundo mas construímo-lo! Daí não podemos lavar as mãos!

Hoje abandono o meu país com a certeza de que alguém se preocupa com tudo aquilo com que cresci mas sei que as suas verdades nunca chegarão a ser a vontade de um povo!
“Contra os canhões marchar”… Enchem-se os pulmões a cantar quando as dores não são nossas. Este foi sempre o reflexo da nossa existência. Este será sempre o nosso futuro, presente e passado. 

Ass. Um Marinheiro


Este texto foi publicado na terceira edição da fanzine Lacuna.

A vontade de te reconhecer


Não tenhas medo, disse-te em segredo
e já próximo da noite atrasamos os passos
sem querer chegar 
e partiste...

Partiste deixando atrás o odor leve do desejo
e aquela saudade imediata que existe nos corpos quando arrefecem.
Quis correr até ti num só fôlego, num só instante
e dizer que me magoas, partindo. Mas não o fiz.
Soubemos amar-nos tantas vezes sem receio
que tive medo de te falar em amor.
Ou já o fiz sem saber...

Partiu de mim, sem intenção própria,
a memória de te ter conhecido e a vontade de reconhecer
não o teu nome mas o teu beijo.

Agora que morre o sol 
e o calor que havia no meu peito... 

Nunca me esqueci de ti

Nunca me esqueci de ti!
Pude, talvez, ser alguém
que não eu
e viver sob outras necessidades
mas nunca te esqueci.

Houve momentos, 
ou uma vida,

que criamos juntos e nunca esqueci.
Não soube,desde então, conhecer-me sem essas memórias,
sem essa paixão submersa em passados e risos
e tardes de sol a dourar as folhas no fim do verão.

Houve um momento de vida
depois apenas a saudade me conheceu
e a raiva pela minha falta a presenciar a tua ausência.
O corpo escasseia-me e engana...
Mas nunca me esqueci de ti!

Ass. O teu porto antigo...

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Grândola...

O vento breve levanta-se
e nele sente-se a fria verdade de um povo que sofre. 
Aos poucos aumente o desejo de um outro rumo
à vida que afinal, partilhada, é de todos 
e de todos precisa.
Não sabemos entendermo-nos de outro modo 
senão chorando um passado tantas vezes insultado

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Quero-te sem destino, sem tempo...

Ergo de mim os olhos para o teu rosto
e sorris.
Talvez não tenhas as certezas de uma eternidade
mas sabes que é esse o olhar procurado 
e abraças-me.

Não sabemos o que é o futuro, assim,
ou a dor partilhada, 
um dia, 
e continuamos o beijo daquela noite perdida

És mais bela na escuridão deste quarto! 
Ouviste? Murmurei...
Agora que as minhas mãos te encontram o jeito de ser
e os teus braços um corpo sôfrego de vida
quero-te...
Quero-te sem destino, sem tempo...

Quero-te...

Calamos os gestos de amor com um beijo permissivo,
calmo e ofegante... Um beijo esperado... porque quero-te.

Não posso falar-te em sentimentos
se os teus lábios me fazem calar de novo...




quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Partiste...

E quando achava ter-te encontrado
reparei no vazio que existia onde antes só havia paixão.
Esqueci o gesto breve dos teus lábios sorrindo
e o odor que libertava o teu cabelo 
nas manhãs preguiçosas gastas na cama.

Ficaste sem dizer - amo-te,
partiste sem calar a dor... A nossa!
A dor de não nos sabermos permitir tal como éramos,
a dor de não nos conhecer-mos como somos,
a dor que é dor porque nasceu da nossa solidão,
a dor que cresce...
a dor sem nome que quisemos chamar de "aventura"!

Partiste sem mim 
mas deixaste as memórias das tardes caladas
espalhadas no sol da praia onde nos beijamos a primeira vez. 

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Os braços vazios de ti...

Sinto frio agora mas não da noite,
da saudade presente na tua ausência,
no modo como cruzo os braços vazios de ti
e silencio o olhar para um horizonte inaudito.

Não sabem estas palavras que dizer-te
e eu como escreve-las...
Não sei parar este pensamento leve e penoso
que é saber-te longe.

Queria ter-te e não posso
e o tempo demora intensamente,
exagera no seu vagar costumeiro destes momentos.

Vou abandonar a esferográfica e a lua que me olha
esta noite, sobre o atlântico...

Calo-me... 
e adormeço de novo sem ti...